O manguezal é um ecossistema de transição entre os ambientes terrestres e aquáticos. No Brasil, os manguezais estão distribuídos em quase todo o litoral, do Amapá à Santa Catarina. Não é um ecossistema muito simpático, não é? Aquele lodo escuro e pegajoso, todas aquelas árvores com raízes estranhas e um cheirinho de ovo podre …
Mas, como diz o velho ditado, não podemos julgar um livro pela capa! O manguezal, apesar de não ser muito bonito aos nossos olhos, é um ecossistema fundamental para a vida na Terra e existe há muito, muito tempo.
O manguezal está sempre sendo inundado por águas marinhas ou salobras (mistura de água salgada marinha com água doce de rios e chuvas). O seu solo é rico em matéria orgânica, possui uma alta concentração de sal e grande quantidade de água, dando a ele uma consistência pegajosa e pouco firme. Além disso, são pouco arejados, ou seja, a quantidade de ar é pequena neste tipo de solo. Por isso, as plantas e os animais que vivem no manguezal precisaram desenvolver algumas estratégias para conseguirem sobreviver neste ambiente tão diferente.
Ah, e aquele cheirinho de ovo podre vem do enxofre existente no solo, já que ele é rico em sulfeto de hidrogênio (H2S).
Mangue é o nome que se dá às plantas que vivem no manguezal. Elas existem na Terra há aproximadamente 60 milhões de anos, desde o Período Terciário, e podem viver até 100 anos. Essas plantas conseguem se sustentar no solo do manguezal graças as suas raízes-escora ou rizóforos, e suas raízes radiais. Como o solo tem alta concentração de sal, as plantas possuem raízes que são especialistas em absorver somente o que elas precisam. Caso elas absorvam muito sal, ele é eliminado através das folhas graças à presença de glândulas especiais.
Os animais que vivem no manguezal são os mais diversos. Podemos encontrar baiacu, robalo, garças, martins-pescardores, papagaios, guaxinins, lontras, cobras, teredos, cracas, ostras, macacos, caranguejos, entre outros. Esses animais podem viver no manguezal ou utilizar ele para alguma atividade, como para reprodução e repouso.
O manguezal, apesar de não aparentar, também influencia na vida dos seres humanos. Além do comércio voltado para a gastronomia, podemos fabricar diversos produtos com a matéria-prima dos manguezais, como medicamentos, álcool, adoçantes, óleo e tanino, entre outros. O tanino é utilizado para amaciar e tingir couros e conservar os fios das redes de pesca e o tecido das velas das embarcações – canoas e jangadas -, evitando que apodreçam pela ação de microorganismos.
Não só extraindo matéria-prima que podemos utilizar o manguezal. Esse espaço oferece atividades relacionadas à recreação, turismo, educação ambiental, apicultura e criação de peixes. Pode-se praticar esportes, como a canoagem e o iatismo, realizar trilhas por entre os bosques e realizar aulas de campo com os estudantes. É um verdadeiro zoológico sem gaiolas!
A destruição destas áreas pode trazer grandes problemas para os habitantes do manguezal e para os seres humanos que vivem lá ou que vivem na cidade. Cada hectare de manguezal destruído corresponde a uma perda anual de aproximadamente 770 kg de camarões e peixes de importância comercial (segundo o pesquisador mexicano Francisco Flores-Verdugo). Além disso, pode provocar a erosão das margens de estuários e rios da linha da costa, redução da produção pesqueira, prejuízos à vida silvestre, declínio do ecoturismo e perda da fonte de subsistência das populações tradicionais. Caso o mangue seja destruído, pode levar cerca de 20 a 40 anos para recuperar toda a área degradada. Se gasta muito mais dinheiro recuperando estes espaços do que protegendo.
Referências:
- BRASIL, A. M. e SANTOS, F. O ser humano e o meio ambiente de A a Z: dicionário. 4ª ed. rev. e ampl. São Paulo: Brasil Sustentável Editora, 2010.
- SCHAEFFER-NOVELLI, Y., JUNIOR, C. C., TOGNELLA-DE-ROSA, M. Manguezais. 1ª ed. São Paulo: Ática, 2001.